sexta-feira, 25 de junho de 2010

Iron Easter Eggs

Antes que façam trocadilhos infames com o título do post, cabe esclarecer o que são easter eggs. Em inglês, significam literalmente ovos de páscoa, mas nesse caso específico, é o nome que se dá a surpresas ou qualquer coisa oculta, geralmente em tom de brincadeira, em aplicativos, softwares, programas, jogos, páginas, músicas, filmes, etc., intencionalmente para que os usuários ou consumidores procurem e achem. Tentarei aqui expor alguns easter eggs escondidos nos dois filmes do Homem de Ferro.
Bom, começo com um dos mais conhecidos. A imagem do escudo do Capitão América. Causou o maior rebuliço, vários sites postavam a imagem que, durante o filme, era quase impossível de se perceber. Mas estava lá, no cantinho, entre um monte de tranqueira, no laboratório de Tony Stark.

O que era pra ser apenas uma brincadeira inserida por um dos especialistas em efeitos especiais, numa apresentação de trailer só pra equipe do filme, acabou agradando Jon Favreau e Kevin Feige, que decidiram manter a cena desse jeito. Contrariamente ao que esperavam, muita gente percebeu, o que causou o maior frisson em fóruns pela internet. O diretor decidiu, então, dar mais força pra brincadeira e inseriu uma cena inteira no segundo filme apenas para mostrar que o escudo, bom, não era bem um escudo, apenas uma tranqueira mesmo, e sua única utilidade deu o tom da comicidade na tela (muitos no cinema não entenderam a piada, obviamente).
Outra aparição digna de nota é a do Mandarim. Pois é, ele apareceu no primeiro filme! De modo bem sutil, mas apareceu. Não apenas na forma da organização Dez Anéis, a qual pertence o vilão que o sequestrou nas montanhas logo no início da história (vide a imagem que abre este post acima, e repare no painel ao fundo). Ao que parece, na novelização que fizeram do filme, Raza (é o nome do vilão) fala “…the man whose ring I wear.” Reparem bem na mão de Raza: um anel.

Nada de mais, certo? Certo, não fosse o fato de que, após trair Raza, com quem estava mancomunado, a primeira coisa que Obadiah Stane faz é retirar o anel do mesmo e tomá-lo para si, passando a usá-lo em sua mão até o fim do filme.
Ora, Mandarim é o arqui-inimigo do Ferroso, conhecido principalmente por manipular dez anéis energéticos altamente poderosos, tanto individualmente quanto em conjunto. Teria esse anel de Raza sido dado a ele pelo Mandarim em pessoa? Por isso Stane o tomou para si, sabendo de seu poder? Talvez na história adaptada para as telas os anéis não contenham poder físico em si, mas sim poder de influência, de status, de posição. Usar um dos dez anéis é garantia de posição de liderança na organização Dez Anéis? Bom, passemos ao segundo filme e, olhem só, outro inimigo de Stark, no caso Justin Hammer (em excelente atuação de Sam Rockwell), traz consigo, em todas as cenas, um pequeno detalhe em sua mão direita (no dedo mínimo, mais especificamente):
Podemos tirar duas conclusões disso: a primeira é que, possivelmente, a produção dos filmes do Homem de Ferro vem plantando pistas e dicas sobre o surgimento e ascensão do grande inimigo do Latinha, preparando o terreno sutilmente em dois filmes para depois mostrar o grande vilão por trás de toda a trama, aquele que poderia estar manipulando as cordas de todos os antagonistas de Tony Stark como um mestre titereiro, por detrás das cortinas. E a segunda conclusão é que, com esse ritmo de um anel por filme, vai ser preciso mais sete ou oito filmes para finalmente chegarmos ao chefão final, o big boss a ser derrotado na última fase...
Porém, o diretor realmente está muito a fim de colocar o Mandarim num dos filmes do Homem de Ferro, e parece que o fará exatamente no terceiro da série: "I look at Mandarin more like how in 'Star Wars' you had the Emperor, but Darth Vader is the guy you want to see fight". Jon Favreau falou também sobre a dificuldade de se inserir um vilão tão ligado à magia como o Mandarim num universo tão tecnológico como o do Homem de Ferro, porém, com o filme de Thor* vindo aí, e posteriormente o filme dos Vingadores** unindo a versão mítica do deus nórdico com a tecnologia do nosso playboy...
Há muitas formas de se fazer isso, e eu quero muito ver como farão, torcendo por um bom roteiro e uma boa trama. Apenas mais uma imagem para deixá-los com uma pulga atrás da orelha, retirada do primeiro filme (reparem bem na mão de Rhodes, deixada intencionalmente à mostra nesta tomada):
*Falando no Deus do Trovão... um dos easter eggs mais legais em Iron Man 2 foi apresentado na cena em que Tony visita Ivan Vanko (Mickey Rourke, perfeito também em sua caracterização) na prisão. A câmera vem acompanhado Stark pelos corredores até que Stark segue e esta para de repente, mostrando uma cena ocorrendo ao fundo. Numa das celas, um sujeito loiro, alto, é fotografado (veja aqui, aos 1min18s do vídeo). A tomada é muuuuito rápida, mal dá pra se ver o sujeito na cela sendo fotografado.


A pergunta é: pra que deixar a câmera parada, enquanto Stark prossegue, e registrar essa cena? A resposta talvez esteja na última do filme. É, a famosa cena pós-creditos. Revejam-na. Eu pergunto: qual é o último som da filmagem, que encerra em definitivo o filme? Pois é, um trovão. E qual foi o elemento mais conspícuo na cena brevíssima da prisão? Um flash (em inglês, um "relâmpago"). Captaram a associação? Isso tudo em conjunto me faz crer que o sujeito preso não é o Sawyer, de Lost... **Falando nos Vingadores... Eu achava que, na cena em que Tony conversa com Nick Fury sobre a Iniciativa Vingadores, estaria estampada dentro do arquivo a foto do Thor. Mas não mostraram nada de seu conteúdo. Mas mostraram (?)*** muito mais coisas fora da pasta. Retirei essas imagens do blog Cave Beneath the Mansion, em que aparecem mais bem explicadas, e acrescentei algumas outras. No quadro ao fundo podem ser vistos lugares específicos do globo circulados. A S.H.I.E.D. estaria observando ou catalogando "avistamentos" nesses locais para sua iniciativa, agora que Tony sabe a resposta da pergunta que Fury lhe fez no primeiro filme: "Você acha que é o único super-herói no mundo?". As suposições seriam (veja no quadro): Interior dos EUA: localização do martelo de Thor (marcado no primeiro quadro talvez a cratera onde o encontraram). Costa Oeste: o próprio Homem de Ferro. Costa Leste: Hulk (e a repórter no quadro seguinte estaria falando da destruição perpetrada pelo Hulk no campus da universidade). No Círculo Polar Ártico (Groenlândia ou Islândia): o corpo congelado do Capitão América. Meio do Oceano Atlântico (Atlântida?): Namor. No último quadro é mostrado interior da África (Wakanda?), com possível Pantera Negra, e centro da Europa (Alemanha?), em que muitos supõem se tratar do Caveira Vermelha.
Há ainda os pertences do pai de Tony, Howard Stark, e as tralhas em seu baú. Há quem veja, na foto acima, um mapa da Antártida. E o que diabos há de tão interessante assim no continente gelado? Hmmm, Terra Selvagem, alguém disse? Será? Apesar de mais ligada à cosmologia mutante, a "região perdida no tempo" apareceu recorrentemente no run de Brian Michael Bendis à frente dos Vingadores, relacionada inclusive à própria S.H.I.E.L.D. e algo de podre dentro da instituição, e poderia render boas histórias.
Uma última aparição especial: no primeiro filme, enquanto Tony pilota a armadura Mark 2 e decide ver quão alto ele pode chegar, é possível ver que o atual recorde de altitude é do Lockheed SR-71 "Blackbird", que, por coincidência (ou não) é o mesmo modelo do jato pilotado pelos X-Men, o X-Jet.

*** Uma ressalva a ser feita aqui, por isso a dúvida se realmente são easter eggs ou não. Há um fenômeno perceptivo conhecido como pareidolia, caracterizado por se achar significados e significantes em estímulos aleatórios ou vagos (como achar imagens de figuras religiosas em vidros), também conhecido como o vulgar "achar pelo em ovo". Há que se ter cuidado, porque quem procura acha o que está procurando, mesmo que aquilo não esteja lá, e pode bem ser o caso dessas imagens nos filmes, de simplesmente significar NADA.

Mas, se significar algo mesmo... bem, talvez estejamos caminhando para um futuro com um possível seriado da Marvel na televisão? Julguem vocês e me digam sobre a possível imagem do corpo congelado do Capitão encontrado numa cena deletada do filme Incrível Hulk (que pode ser vista inteira aqui, no blog Alternative Prison). Montagem, fake? Easter egg? Pareidolia?





Seriado sugerido: Fringe.
Trilogia de filmes sugeridos: Matrix.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

O pior inimigo do Batman

   Ele está presente nos piores momentos do Batman. Destrói o personagem como nenhum outro, atacando da forma mais vil possível: acabando com a reputação do herói. Não, eu não estou falando do Coringa. Este é o melhor inimigo do Batman, a ponto de roubar a cena do Cavaleiro das Trevas nas telonas. Estou falando do PIOR inimigo do Batman: o Robin.

    A tradição dos parceiros mirins data de vários anos. A principal influência foi a Família Marvel, que acompanhava o Capitão Marvel, na época um personagem de estrondoso sucesso que colocou no chinelo a até então insuperável popularidade do Super-Homem. O Capitão ainda era da Fawcett, e constituía basicamente o único personagem popular da editora. Aí alguém (provavelmente um espertinho do marketing) teve a brilhante ideia de multiplicar o personagem para multiplicar as vendas, criando versões do mesmo personagem, com a diferença de serem mais novos, mulher ou até animal. O problema é que deu resultado (as pessoas realmente parecem gostar de mais do mesmo), o que desencadeou um processo de criação de outras "famílias" pelo universo super-heroico afora. Daí que o Super-homem também teve seu Superboy, Supermoça, Krypto (o supercão) e por aí vai. O mesmo ocorreu com o Batman.

   Só que o tempo passou e os personagens apêndices foram sendo descartados, até mesmo porque os quadrinhos aos poucos deixavam de ter um público infanto-juvenil para ter um público adulto. E essa visão de personagens adolescentes podia ser muito divertida para quem podia fantasiar-se no papel daquele herói juvenil, mas não se encaixava em um cenário mais adulto. Simplesmente não é crível! Assim, nas reformulações da DC, os personagens foram transformados ou, de alguma forma, aposentaram. O Krypto nunca existiu (para isso existe um recurso chamado continuidade retroativa). O Kid Flash envelheceu e assumiu o lugar do Flash, quando este morreu. Um dos poucos casos de mirins na Marvel, o Bucky, não foi "ressuscitado" junto com o Capitão América quando este foi trazido de volta ao universo da editora (pelo menos não na época). O primeiro Robin - Dick Grason - envelheceu e tornou-se o herói Asa Noturna. Legal... A DC estava se ajustando. O problema é que o Robin é um fantasma que persiste!

   Pense comigo: você um super-herói. Portanto, sua preocupação é proteger as pessoas. Você, herói, enfrenta ameaças a própria vida em nome desse ideal. Arrisca-se, machuca-se, enfrenta situações extremamente difíceis, de grande impacto físico e psicológico. Entretanto, você não é uma pessoa qualquer, é um herói, dispõe-se a enfrentar tudo isso e manter-se em sua incessante luta contra a vilania e a injustiça, por ter enraigado dentro de você um grande senso de dever e responsabilidade. Aí aparece um adolescente na sua frente e diz que quer ser seu parceiro. Você diz que tudo bem? Vai expor um adolescente a todo esse impacto psicológico, a toda espécie de dano físico e constante risco de morte? O Bucky em si é uma incoerência narrativa, assim como qualquer outro mirim.


   O Robin é ainda pior, porque o Batman não tem nada a ver com parceiros-mirins. Aliás, o Batman não gosta de parceiros. Mesmo na Liga da Justiça, ele não está sempre presente, e quando está, fica nas trevas, à parte dos outros membros. Em muitas ocasiões, deixa de se envolver em algum problema porque está cuidando dos seus próprios (ou seja, Gotham City). E com frequência age paralelamente ao grupo, traçando seus próprios planos (muitas vezes, de contingência), agindo de sua própria maneira etc. Ele é um cruzado solitário! Mas... tudo bem. Ele também age constantemente com a equipe e até tem um histórico de parceria com o Super-Homem. Um Robin é outra coisa... Primeiro, porque o Batman não gosta de parceira, só faz por necessidade. Segundo porque ele não precisa de alguém para guardar suas costas (na Liga, ele que guarda as costas dos demais). Terceiro, ele é sorrateiro, move-se nas sombras. É meio ridículo fazer isso acompanhado de um pivete com um uniforme todo colorido. Quarto, ele é responsável. Assume cargas até maiores do que pode suportar, para não arriscar os demais. Quinto, ele é sombrio. Não combina com um trapezista jovial... Enfim! São vários os motivos, dentro do perfil do personagem, que faz com que ele não tenha um parceiro mirim.

   Já ouvi que Robin se mantém pelo simbolismo que ele representa na vida do herói. A infância de Batman foi arrancada dele na ocasião da morte de seus pais. Ali, a criança morreu. O Robin representaria, então, a infância perdida do Batman (veja aqui neste post do Rodrigo uma visão interessante sobre "a função" do Robin). Legal... Só que essa infância está em constante ameaça. Se a questão é preservar a infância, ou mesmo resgatá-la, mais um motivo para o Batman pensar: "De jeito nenhum! Eu até posso ter algum parceiro, mas em hipótese nenhuma um adolescente. Não quero que ele perca a infância que eu não tive". E não é isso que o Batman faz? Tenta dar a oportunidade para que as pessoas tenham o que ele não teve? Sua motivação não é algo como evitar que outros passem pelo sofrimento que ele passou?


   A morte de um dos Robins pelas mãos do Coringa é uma prova do risco a que o Batman expõe qualquer um de seus parceiros mirins. O Coriga matou Jason Todd (o segundo Robin) às marretadas (Batman - morte em família). E isso não foi, na minha visão, apenas mais uma maluquice do palhaço. Foi um aviso! O Batman está realmente disposto a assumir essa responsabilidade? Na visão de Grant Morrison, aparentemente, o herói sabe disso. Em uma alucinação, Batman sonha com um futuro em que o Coringa diz: "Quantos Robins preciso matar pro velhote se tocar...?" (Os Melhores do Mundo nº15).
   Tudo isso, porém, só caracteriza a incoerência e a falta de verossimilhança na existência e persistência do Robin. Não o coloca na posição de pior inimigo. Por que, então, eu disse isso? Simples: onde o Robin aparece, estraga tudo. E não estou falando das aventuras. Vamos começar de bastante tempo... A antiga série de TV do Batman. Era ele e o Robin, não era? Foi um clássico da TV, tudo bem, mas não é exatamente a visão mais fidedigna do Cavaleiro das Trevas. E mesmo os fãs de Batman fazem piadas da série, não só porque ela é antiga, mas por ser paspalhona mesmo. Aliás, um dos grandes chamarizes para as piadas é justamente quem? Vamos pegar também a primeira sequência de filmes do Batman que lançaram... O primeiro foi bom. Muito bom! O segundo também foi legal, manteve a mesma linha. Foi no terceiro - Batman Eternamente - que a coisa começou a desandar... E qual é o personagem que surge nele? O quarto foi uma bosta, digna de pena! Seu título? Batman e Robin. Teve até um desenho animado relativamente recente... Não estou falando do Batman do futuro, mas passava na mesma época na TV. Era um outro, em que as histórias, embora voltadas para o público infantil e principalmente adolescente, eram um pouco sombrias, criavam um clima (atenuado) de terror. Os vilões, em sua maioria, foram reformulados. Era até legalzinho. Estava indo bem, até quem dar as caras na história? Novamente, o Robin mata as histórias do Batman. Até Batman - Bravos e Destemidos, que tem uma abordagem mais infantil e faz referências à visão mais antiga e menos sombria do personagem, corre o risco de extinção no caso de o Robin aparecer. Vamos torcer para que esse fantasma não assombre a nova sequência de filmes do homem-morcego. Não sei se resistiria a um ataque tão devastador...



terça-feira, 1 de junho de 2010

Tempestade Selvagem de Alan Moore

WildStorm, para quem não sabe, é a editora de Jim Lee (assim como a Top Cow é do Marc Silvestri), remanescente da Image Comics, e que atualmente se encontra de posse da DC. A Panini, espertinha como é, lançou um encadernado no Brasil para apresentar o que esta editora vem fazendo ultimamente, e escolheu um TPB só com histórias de Alan Moore para este selo. E não é que o mago barbudo consegue fazer jus à propaganda de seu nome? Vejam bem, não são histórias excelentes, as melhores já escritas pelo inglês, mas são legaizinhas, algumas até bem bacanas. Uma boa diversão. A arte é que, de modo geral, peca e não acompanha bem os roteiros.

A primeira história é com o personagem Majestic (sobre quem sei pouco, mas nada que a internet não resolva), apenas mais uma hipóstase do Super-Homem. Mas aqui Alan Moore nos apresentou o personagem nos últimos dias de vida... sua e do próprio universo! Como um dos últimos seres sencientes a restarem vivos enquanto a entropia toma conta de tudo o que existe, Majestic narra uma história em que ainda cabe o amor nesse fim dos tempos, e em que Moore demonstra um bom conhecimento de cosmologia (vide entropia e morte térmica do universo). Destaque especial para os últimos seres vivos a testemunharem o fim da vida, como por exemplo: uma estirpe inteligente de sífilis infectando um dos nove sobreviventes, um supercomputador criado para calcular os nove bilhões de nomes possíveis de Deus e perto do fim de seus cálculos, e um espírito abstrato da aritmética desgostoso pois todos os números possíveis estão se reduzindo a zero. Uma homenagem que Moore faz a contos de ficção científica, em especial a The Nine Billion Names of God, de Arthur C. Clarke, e principalmente a Last Question, de Isaac Asimov. Na verdade esta é a terceira versão deste conto que conheço, e todas são muito boas. O final é surpreendente (adoro twist endings, talvez seja um resquício saudosista meu de Além da Imaginação - Twilight Zone). Esta história é a preferida do Guilherme, parceiro e brother in arms deste blog
Outra história trata sobre Deathblow, ou algo assim. Apesar de ser uma história muito mais visual que narrada, tem-se a impressão de se passar muito rápido por ela. Talvez seja proposital para a proposta desejada por Moore, para deixar o leitor perdido como os personagens, não sei. Uma típica história de sobrevivência num ambiente hostil, alienígena, de não saber onde está ou por que está ali. Uma boa sacada do autor foi de já nos apresentar uma possível "resposta" para o enigma vindo de uma ideia do vilão, mas esta não ser a verdadeira. Muitos que leram, eu inclusive, são levados a acreditar nesta hipótese por ser a mais plausível até então. Falar mais estragaria a surpresa. Achei a história mediana, com um tema recorrente (coff,coff, Resident Evil, coff, coff, entre outros), e essa questão de ser muito visual a fez perder pontos para mim.
A última história é bem curta, relacionada a eventos que talvez quem conheça mellhor o passado dos WildCats - não é o meu caso - goste e até entenda mais. Não há muito para contar pois não é bem uma história fechada, necessita de algum entendimento anterior. Destaque para a interação entre os personagens, e só. Há pouco mais a ser dito.

O contrário pode ser dito quanto à história de Vodu: a melhor! Na minha humilde opinião, é claro. Alan Moore conseguiu pegar uma personagenzinha fraca e subaproveitada, clichê, e resgatar para ela uma bagagem maior (que o próprio criador da mesma nem sequer chegou a cogitar). Inserindo-a num contexto cultural riquíssimo, redefiniu e norteou toda uma mitologia própria e um background para a Vodu. Uma pena que tão logo a personagem voltou a aparecer nos quadrinhos da editora, tudo isso foi esquecido... Tomando de partida o nome artístico da garota, o mago inglês jogou-a em Nova Orleans e inseriu elementos típicos da religião vodu (não confundir com o voodoo perpetrado por marinheiros ignorantes e supersticiosos e vendido em filmes de terror B norte-americanos), em algumas coisas parecida com a Santería. Para quem conhece um pouco sobre o assunto, as pistas vão sendo deixadas aos poucos pelo autor, nos nomes, nas formas e nos falas das pessoas que a personagem vai conhecendo quando chega à cidade. É estimulante captar e seguir as dicas para tentar descobrir a identidade dos envolvidos.

O início do capítulo 2, Erzulie, mostra o quão poderosas e acima das questões mundanas essas entidades são, e o quanto os seres humanos são apenas marionetes para elas. E é assim que Priscilla, a Vodu do título, passa pela história: nada de super-heroísmo, apenas uma garota sensual (a cena da dança é bem sugestiva!) recém-chegada servindo aos desígnios de forças maiores. Ótima história, sem colantes coloridos, e excelente oportunidade para aprender um pouco mais sobre tão rica e diversificada religião. Uma pena que nesta edição a Panini não tenha incluído todas as capas da minissérie, são muito boas...



Filme sugerido: Identidade (Identity, 2003), com John Cusack.

Conto sugerido 1: The Nine Billion Names of God, de Arthur C. Clarke.

Conto sugerido 2: Last Question, de Isaac Asimov.

Música sugerida: Santeria, da banda Sublime.

Assunto sugerido: religião vodu e voduísmo.