segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Perguntas que não querem calar...

- Se o Exterminador tem fator de cura, por que é caolho?



- Como é que a Mulher-Maravilha sabe onde está seu avião invisível? E quando sabe, como ela encontra a porta para entrar?

- Seria a Mulher-invisível a mulher mais satisfeita do universo Marvel?
- Se o Super-homem tem supervisão e superaudição, e visão de raio-X, como é que ele é pego de surpresa tantas vezes?
- Se o Super-homem é invulnerável, porque é que ele vive caindo pelos cantos, tonto com as pancadas que levou de algum vilão?

- Será que o Flash não é capaz de mais do que uma rapidinha?
- Se o Ajax é transmorfo, por que ele continua aparecendo careca, feio e verde?


- Se o Rhino fica preso dentro da sua armadura, como ele vai ao banheiro?
- Por que a maioria esmagadora dos personagens são brancos?
- Se o Coisa não tem orelhas, como é que ele escuta?



- Qual é o segredo da eterna juventude dos super-heróis?
- Quantos pedaços de kryptonita existem na Terra, afinal?
- Se o Super-homem tivesse um filho com a Mulher Maravilha, qual é o intermediário entre o aço e o barro?
- Como é que o anel do Lanterna Verde funcionava embaixo de uma lâmpada incandescente amarela?
- Onde o Wolverine guarda as garras quando o desenhista as faz maior que seu antebraço?


- Como o Eléktron consegue respirar quando fica do tamanho de um átomo, se uma molécula de oxigênio tem o dobro do seu tamanho?
- Como o Fanático e Tufão viram o pescoço com aqueles capacetes?

 

- Se a Mulher-Maravilha é invulnerável, porque ela se defende das balas com seus braceletes?
- Será que Hank Pym e a Janet já tiveram relações em suas formas de Gigante e Vespa ao mesmo tempo?
- Porque a Mulher-Gavião, vindo de um planeta tecnologicamente superior, usa armas medievais da Terra? E asas artificiais para voar?
- Por que a mania de usar cueca fora da calça nunca sai de moda?
- Se Namor é um ser que vive debaixo dágua, pra que diabos ele voa? De quem herdou as asinhas? E como é que asinhas de passarinho nos tornozelos sustentam ele no ar?


- Se os Inumanos não são humanos e vêm de um cultura completamente diferente, por que usam nomes da mitologia terrestre, como Medusa e Triton?
- Será que o Chamber tem a chance de comer um bife mal passado?



- Como o super-homem faz pra congelar as coisas com seu supersopro sem jogá-las longe, ou soprar as coisas longe sem congelar?
- Como diabos ninguém questionou quando o Visão, um robô, teve filhos??? E nenhum deles era sequer vermelhinho... Será que ninguém confiava muito na fidelidade da Wanda e deixaram quieto?
- Como a máscara do Sr. Milagre entra na boca dele?


- Como o Tocha Humana respira quando está em chamas se todo o oxigenio ao seu redor está em combustão?
- O Manto já pegou ou não a Adaga?
- Por que as pessoas que são presas com gelo, ou mesmo congeladas, nunca sentem frio?
- Como é que o Motoqueiro pronuncia o "p" e o "b", se são sons bilabiais?


- Por que todos os personagens estrangeiros só falam na língua natal quando falam "oi", "tchau", "sim", "não", "amigo" ou "colega"?
- Por que todos os alienígenas só invadem a Terra pelos Estados Unidos?
- Afinal de contas, quantas flechas cabem naquela aljava do Gavião Arqueiro?
- De onde é mesmo que o Batman tira o escudo?


  Obviamente, não consegui esgotar o tema. Se você também tiver uma perguntinha que te tira o sono, acrescente nos comentário!


domingo, 20 de maio de 2012

Leituras Recentes 2

   Pessoal, mais uma vez estou aqui para comentar algumas leituras recentes que fiz, ou melhor, as leituras depois do primeiro post Leituras Recentes. Espero poder fornecer boas descrições das obras, ao mesmo tempo tentando não matar a história nem fazer spoiler, de tal forma que eu possa contribuir para a escolha de vocês sobre os próximos quadrinhos que querem ler (ou aqueles que não querem ler de jeito nenhum).





O Chinês americano
   Tomei conhecimento e tive interesse em ler essa obra porque foi uma das comentadas na I Jornada de Romances Gráficos (na UnB), assim como The Arrival (comentada também neste post). Dificilmente uma história em quadrinhos me surpreendeu tanto. Não esperava muito dela, apenas uma história interessante. Quando li, reparei que é uma história em quadrinhos com muita profundidade, que equilibra muito bem simplicidade e qualidade. São três enredos que se desenrolam conjuntamente: o do rei macaco (o macaco que queria ser mais que um macaco), o de Jin Wang (o Chinês que se mudou para os EUA e queria ser como seus colegas) e o de Danny e seu primo Chin-Kee (que é a paródia do arquétipo de um chinês, feita em formato de sitcom). Os três enredos, cada um a sua maneira, fala sobre o mesmo tema: o desejo de pertencer, a vontade de se sentir parte da comunidade onde se está. O Chinês americano é uma obra muito interessante e bem-humorada.



Jogos de poder volume 1
   Comprei Jogos de poder faz tempo, e sempre acabava lendo outra coisa antes, deixando-o para depois. Não sei exatamente por quê... não sei exatamente por que comprei também. O importante é que finalmente li. Achei legal. Não é uma obra excepcional, dessas que ficam pra sempre gravadas em nossa mente com aquela impressão de que gostamos muito. Mas é legal, valeu a pena ter lido. Uma dessas histórias de espionagem, com conspirações, tramoias e aquele velho conflito entre o agente e seu chefe e algumas surpresas no caminho. É um leitura bem dinâmica, rapidamente se lê a história toda. O volume 2 já saiu, já comprei o meu e estou esperando a hora em que a revista vai me chamar para que eu a leia.



Invasão dos mortos
   Invasão dos mortos é um desses quadrinhos em preto e branco de suspense, terror. Porém, esqueça zumbis se multiplicando por toda a cidade. A invasão é um tanto invisível, com possibilidade até de ser apenas uma armação de pessoas decididamente vivas. É nesse clima de mistério que uma trama bizarra, com personagens um tanto peculiares - como o próprio protagonista -, se desenrola. Leitura rápida e de qualidade.

Coleção DC 75 anos
   Essa coleção é um conjunto de quatro encadernados com histórias da DC. Cada uma delas representa um dos quadro períodos das histórias em quadrinhos de super-heróis. Começa pela Era de Ouro, onde constam as primeiras história de grandes ícones da DC, como Super-homem, Batman, Lanterna Verde  e Mulher Maravilha. No encadernado da Era de Prata vemos as histórias mais lúdicas e aventurescas dos personagens, também período em que o Flash passou a fazer mais sucesso. Na Era de Bronze, temos um tom mais sério e reflexivo de histórias maduras, como aquela em que Ricardito - ajudante do Arqueiro Verde - se envolve com drogas. Finalmente, na Era Moderna vemos o tom mais adulto e sombrio que os quadrinhos ganharam, onde se apresentam histórias do Monstro do Pântano de Allan Moore, Sandman e trechos do Cavaleiro das Trevas, entre outras. Cada encadernado vem com algumas páginas de explicação sobre esses períodos dos quadrinhos e seus marcos. Eu diria que são obras essenciais para quem gostaria de conhecer um pouco sobre a História das histórias em quadrinhos e ler bons exemplos de histórias publicadas em cada período, para perceber a grande diferença de estilos que os caracterizam.


The umbrella academy: a suíte do apocalipse

   Umbrella academy: a suíte do apocalipse é algo... diferente. Difícil até de explicar... Digamos que a a estrutura narrativa dela seja mais emocional do que racional. Eu sei que estou sendo vago, mas como disse, é difícil explicar. Minha impressão é a de que a obra é mais centrada nos sentimentos dos personagens, em seus conflitos (internos e com os outros), do que em coisas explicadinhas. Tem um pé na poesia e o outro na ludicidade. Tudo isso dentro de uma trama com super-heróis e vilões exóticos. Confesso que, com os comentários que eu havia ouvido sobre o Umbrella Academy, minha expectativa foi um tanto alta, e não correspondida. Porém, posso dizer que foi uma leitura que valeu a pena, dada a sua peculiaridade. Já saiu sequência, ainda estou decidindo se vou comprar... 


Camelot 3000
   Li Camelot 3000 por ser uma história muito bem comentada. Ela já ganha crédito pela originalidade do enredo: em um futuro distante (ano 3000), uma grande ameaça alienígena paira sobre o planeta Terra. Nesse momento, cumpre-se a profecia de que o Rei Arthur voltaria à Inglaterra quando a terra mais precisasse dele. Ele então parte em busca das encarnações dos heróis da távola redonda. Diferente, né? Quanto ao desenvolvimento da trama, vale lembrar que a história é relativamente antiga. Alguns aspectos dela são ainda um tanto inocentes, mas de uma maneira geral é boa. Levando também em consideração o tempo em que foi lançada, entendo porque foi tão aclamada: trouxe a tona temas sobre os quais não se falava na época. Veja por exemplo o caso de Tristão, que encarnou em um corpo feminino, mas tem a alma masculina. Só recentemente outros direcionamentos sexuais passaram a ser abordados em histórias da Marvel e DC. Já em 82 o tema foi abordado nesta história, e com que simbolismo mais refinado! Acredito que seja uma obra interessante para os leitores de quadrinhos em geral, e indispensável para quem se interessa por ler história clássicas, que estavam a frente de sua época, e para quem gosta bastante da lenda dos cavaleiros da távola redonda. E, é claro, da belíssima arte de Brian Bolland.



Ao coração da tempestade
   Uma história bem legal sobre um dos mais ilustres quadrinistas do mundo. Ao coração da tempestade é uma autobiografia de Will Eisner. Enquanto viaja no trem rumo a Segunda Guerra Mundial, o autor relembra toda a sua vida, desde a infância (quando se mudou de bairro e logo passou a ser perseguido pelos garotos da rua por ser judeu, estigma que gerou vários outros problema ao longo dos anos). A história aborda a maneira como ele enxergava seu pai, as dificuldades financeiras pelas quais sua família passou, sua perseguição pela arte da pintura e desenho, até conseguir se tornar um quadrinista, quando foi convocado para a guerra. Indispensável para quem gosta do gênero biográfico em quadrinhos, tão em voga ultimamente.




Batman anual 3 - a origem sangrenta do Coringa
   Esse encadernado traz uma outra versão da origem do Coringa, diferente daquela a que estamos acostumados desde a Piada Mortal (Allan Moore), que também serviu de referência para o primeiro filme do Batman. Em A origem sangrenta do Coringa, vemos o vilão antes de se tornar o palhaço do crime. Vemos o quanto ele é naturalmente talentoso em roubos e com armas. E vemos a ascensão e constante popularização de um herói encapuzado dando sentido, aos poucos, à existência de um criminoso que não encontrava rival. Ao mesmo tempo, a história mostra (ou antecipa) o impacto que o vilão terá na vida do homem morcego. Para quem gosta de Batman, para quem gosta do Coringa, para quem gosta de origens... este encadernado é uma boa opção.


Batman - a queda do morcego (volume 1)


   Republicação do arco de histórias do Batman que aparentemente inspirou o terceiro filme da franquia, o volume 1 (e por enquanto, o único relançado) narra os planos de Bane para cansar, na verdade, estafar o homem-morcego, física e psiquicamente, deixando-o totalmente suscetível a uma derrota pelo vilão. A história é boa, demonstra - pra mim - a única forma de vencer o herói.




Batman (de Grant Morrison)
   Normalmente, só comento os encadernados, quando muito minisséries. História em quadrinhos mensal, não. Mas abro uma exceção, porque Grant Morrison realmente é um escritor diferenciado. Tenho que dar razão ao Rodrigo quando ele diz que é um dos melhores autores de quadrinhos. Seu trabalho com o Batman é bom em tantos aspectos que o espaço aqui fica pouco para comentá-lo. Acredito que a característica mais marcante para mim foi a tal da hipercontinuidade: Morrison não considera que existem histórias escritas do Batman que, na verdade, nunca aconteceram. Muito embora aquele Batman da Era de Prata já não tenha nada a ver com o Batman pós Frank Miller, Morrison abraça todo o seu passado, todas as suas histórias (inclusive de outras mídias, como os filmes do morcego atuais e antigos) para compor, de alguma forma, sua história agora. Ele traz diversos elementos do passado do vigilante, mesmo aqueles não compatíveis com a versão sombria de agora. E faz uma verdadeira ode ao personagem, tratando-o como um personagem extremamente icônico, praticamente sacro. Quem ainda tiver a oportunidade de comprar as revistas em lojas especializadas, em sebos de quadrinhos ou lojas virtuais que mantêm números antigos (ou mesmo pedir números atrasados na sua banca predileta), vale muito a pena (li e estou sugerindo aqui as edições de 58 a 89). Um conselho: leia as revistas acessando informações sobre elas em blogs que comentem as histórias número a número, porque muitas referências podem passar batidas mesmo para um fã de longa data.




Madman comics 1 - curso-relâmpago para quem quer se divertir
   As histórias de Madman comics 1 têm uma boa dose de ação e mistério, permeada por ironias e situações inusitadas. Por um lado, tenho a impressão de que as histórias tiram um bom sarro do modelo clássico de quadrinhos de super-heróis, por outro acho que podem ser consideradas também homenagens, mas honestamente fico na dúvida. Imagine um herói tendo uma epifania sobre suas motivações, seus medos, sobre a existência e o julgamento divino... enquanto luta contra um brutamontes sem pele chamado Homem-músculo. É por aí... Mas não espere rir. Na minha avaliação não é o tipo de humor que faz a gente rir, e sim aquele que faz a gente ver graça, ou ironia, sem dar risadas.




Lex Luthor - homem de aço
   Nesta história vemos Lex Luthor sem ser naquela visão maniqueísta de mente maligna, gênio do mal. Vemos em Lex Luthor - homem de aço o impacto psicológico que a existência e aparição de um ser como o Super-homem gerou em uma pessoa como ele. A desconfiança, o medo natural que se sente diante de um ser tão poderoso, e uma total falta de capacidade de aceitar que um alienígena seja eleito o herói dos humanos. Vemos na história, curta e sem muita ação, mais focada na psicologia, uma possível razão para que ele tenha se transformado no temível vilão.


Fracasso de Público 2 - desencontro de titãs
   O encadernado Fracasso de público 2 - desencontro de titãs trata de histórias mais realistas, com pessoas normais, naturalmente cheias de defeitos, dificuldades e extravagâncias. Está repleta de metalinguagem e de muitos enquadramentos interessantes e originais dos painéis dos quadrinhos. Desde as personagens (uma delas acredita piamente que outra é uma vilã totalmente polarizada, mas lembre-se: é uma história realista) até os enredos em si, sendo que um deles é justamente sobre um autor que criou um personagem em quadrinhos no qual foi inspirado um grande sucesso de uma grande editora, só que o criador nunca recebeu um centavo por isso. Ele continua lutando por seus direitos, mas também não é nenhum especialista em direito, tampouco conta com a bondade de um excelente advogado cego que o ajude voluntariamente. Os outros enredos envolvem problemas com os vizinhos, romance, ciúmes e coisas da vida normal, retratados com humor e uma boa dose de sensibilidade. 





Zoo 2 - Jogos de caçadores
   A aguardada continuação de Zoo, que já comentei em outro post como uma das melhores histórias quadrinhos nacionais que já li. Zoo 2 também conta com uma entrevista com autor aqui no blog, às vésperas de seu lançamento nacional. O que posso comentar dessa obra é que Nestablo Ramos se superou. Aprofundou-se ainda mais nesse mundo onde os animais são a raça dominante e os humanos, bichinhos de estimação, usados também em testes químicos, como   fonte de alimento e suas partes usadas em roupas. Uma história extremamente reflexiva, cuja continuação supera a primeira edição em elaboração, sutileza e complexidade, afinal o tema é aprofundado, enredos correm paralelos dentro da trama principal e existem dicas que se conectam com a primeira edição e vão desvendando os mistérios de toda a história, além dos novos e interessantes personagens. Agora só falta a terceira e última edição, que certamente terá reviravoltas e as muitas surpresas características das duas obras já publicadas.


A box of bunny suicides

   Poucas coisas são perturbadoramente tão engraçadas quanto Bunny Suicides. O princípio é muito simples: coelhinhos fofinhos suicidas, que se empenham em morrer (com toda a calma e serenidade do mundo) das formas mais inusitadas e mirabolantes possíveis. Eu sei, falando assim parece morbidez sádica... Mas os coelhinhos são muito criativos. Elaboram verdadeiros planos de morte, bem originais e criativos. Na maior parte das vezes basta uma página, de um único desenho, sem balões. E as mortes muitas vezes não chegam a aparecer, ficam apenas deduzíveis. É difícil explicar como isso pode se tornar engraçado, então dê uma "lida" na imagem abaixo e veja se pega o espírito da coisa.





Necronauta - o soldado assombrado e outras histórias
   Já que comentei acima Zoo, vou falar também de Necronauta, outra obra que foi produzida pela HQM. Este encadernado reúne histórias publicadas pelo autor, Danilo Beyruth, normalmente de forma independente. As histórias são de leitura bem rápida e quase todas são em preto e branco. O conceito do personagem é, na minha visão, seu ponto forte: Necronauta é uma espécie de salva-vidas de espíritos, que por algum motivo ainda não chegaram à luz. Cada história narra o que prendeu o espírito ao limbo (ou de que forma ele se perdeu ali) e qual abordagem o "herói" usa para salvá-los. Vale a pena ler para conhecer.


 Projeto Superpowers
   Uma história de Alex Ross e Jim Krueger, com um monte de personagens da década de 30, aqui revitalizados e remodelados. Um encadernado com arte muito bem feita e uma história envolvente, mostrando o que aconteceu no mundo depois que esses heróis venceram os vilões. Bem, nem todos... Os personagens da história são bastante marcantes e a trama muito bem desenvolvida, começando com o Combatente Ianque - um dos muitos heróis patrióticos do período - já velho, questionando seu passado. Um mistério abre a história, pois não sabemos exatamente que grande pecado ele cometeu, nem o que ele deve fazer para reverter esse quadro. Considero Projeto Superpowers uma das leituras  recentes mais agradáveis que fiz, dessas que dá um sensação de "que pena!" quando a história acaba. Ouvi dizer que a história tem continuação. Espero que tenham a sensatez e a boa vontade de continuar publicando no Brasil. Curiosidade: quem tiver o encadernado de Tom Strong - No Final dos Tempos pode tentar encontrar alguns personagens retratados tanto nesta quanto naquela obra.




Vigor Mortis Comix
   Taí um revista inusitada. Trata-se de uma espécie de terrir erótico, com histórias bastante originais. A primeira, por exemplo, fala sobre um zumbi em busca de um relacionamento com uma mulher, embora sempre fique no dilema entre manter essa ligação e comer seu cérebro. Em outra história, o protagonista, em fuga, atropela o cafetão de algumas prostitutas. Agradecidas, elas criam uma espécie de harém, que também serve como fortaleza: quando os mafiosos vêm atrás dele, elas pegam suas metralhadoras e defendem-no sem medo. Dá pra acreditar nessas histórias? Entre elas, também existe uma metalinguagem em tom tragicômico sobre pessoas que trabalham ou gostam de quadrinhos, além da criativa forma em que cada história se interliga sutilmente com outra. Para quem está procurando uma leitura bem diferente, Vigor Mortis Comix é uma ótima opção. 


Namor - as profundezas

  Esse encadernado ganhou minha admiração logo na primeira página (retratada ao lado). A imagem do submarino, imerso nessa grande escuridão, dá uma verdadeira impressão das profundezas do oceano, onde certamente a luz já não chega, e o silêncio é dominante. Como a história de Namor - as profundezas conta sobre um grupo de exploradores que se veem totalmente isolados do restante do mundo (e fragilizados mentalmente por conta disso), nada mais representativo do que essa imagem. Namor mesmo é personagem coadjuvante dela. O protagonista é um pesquisador, desses que desmistificam lendas, tentando provar que Namor é apenas um mito. A trama não é nada aventuresca, e sim tem uma pegada bem puxada para o suspense e até terror, onde nosso conhecido personagem é retratado como aquele que provoca o medo. A cena em que, rodeado pelo negrume do abismo profundo, o casco de aço frio do navio contrasta com um vislumbre do peito nu do Príncipe Submarino é excelente! Nunca gostei muito do Namor, nem de suas histórias, mas é o que sempre digo: bons escritores são capazes de fazer boas histórias com qualquer personagem. 


Transmetropolitan 2 - tesão pela vida
   No leituras recentes 1 comentei sobre o primeiro volume, falando das características gerais da obra. Então... no segundo volume elas se mantêm. Spider Jerusalém continua no grande centro urbano que ele adora (re-re-re, só pra ir na onda de sarcasmo do protagonista. Ele detesta cidade), em sua vida de jornalista bonzinho (re-re-re-re). O futuro não é exatamente um lugar legal, e Warren Ellis explora bem tudo de ruim que pode acontecer com a sociedade. Transmetropolitan 2 vem com mais 6 histórias (e a Panini está seguindo a cronologia de lançamento original, diferente de como foi feito anteriormente), sendo que a primeira metade traz três histórias meio que fechadas, ácidas mas em algum sentido também tocantes. A segunda metade envolve um moleque sem cabeça que diz ser filho do nosso delicado repórter (re-re-re-re-re-re-re-re) e um cachorro-policial em busca de vingança por ter perdido seu pau grande e precioso devido a uma encrenca com o Spider. E você pensando que o Warren Ellis não conseguiria degradar mais o futuro da raça humana...

The arrival
   Este é um encadernado particularmente muito interessante. The Arrival narra a história de um estrangeiro chegando em um país estranho. Aliás, talvez seja mais adequado dizer que a obra mostra essa chegada. Digo isso porque não há um balão de fala ou pensamento em todo o encadernado, o que o torna bem compatível com seu propósito: não importa que versão você compre dele (americana, francesa...), não importa a língua que você fala, você pode "ler" essa HQ. Tampouco importa de onde você seja: as imagens retratadas na história são completamente alienígenas, você capta a impressão de estranheza que o protagonista sente independente de seu país. Ao mesmo tempo, é tudo mais ou menos familiar. E ainda passa a impressão não de que se está chegando a outro planeta, mas de que é uma história de época, que ocorreu no passado. Isso porque o livro é todo desenhado como se fosse um álbum de fotografias antigo. Tantas qualidades assim em um quadrinhos que não tem uma fala me obrigam a dizer que é uma história em quadrinhos sem igual. Tanta adequação da forma e conteúdo ao tema aproxima o encadernado de uma poesia, me obrigando a qualificá-lo como uma verdadeira obra de arte. 


Logicomix
   Logicomix é um desses quadrinhos mais ou menos biográficos, mais ou menos didáticos. E interessante, no início da história um dos autores já começa falando com os leitores, dizendo que não é um manual de introdução à Lógica, é uma narrativa. Essa metalinguagem permanece durante toda história, que é entrecortada pelos encontros dos próprios autores e pessoas envolvidas na produção da obra (que está bem em suas mãos). O  eixo central é uma palestra de Russel (um dos grandes nomes da Matemática e da Lógica) sobre o uso da lógica nas relações humanas, às vésperas de estourar a Segunda Guerra Mundial. Ele discorre sobre sua vida, sobre a matemática, sobre Lógica, sobre pessoas, sobre loucura... Um prato cheio para quem gosta de refletir, principalmente sobre as certezas e incertezas da vida. E para quem gostaria de conhecer um pouquinho sobre a história da Lógica, ainda que (assim como eu) não entenda muito de matemática (imagino que para os que entendem, deve ser mais apreciada ainda). Muito bom!


Vikings - a viúva do inverno
   Esse encadernado é composto por uma história fechada (ou aparentemente) dentro da obra Northlanders, que aqui no Brasil ficou conhecida como Vikings, a partir do momento em que foi publicada pela revista Vertigo. A viúva do inverno é ambientada em uma pequena cidade que decide fechar suas portas para evitar o contágio da Peste Negra. Parece uma decisão óbvia, né? Acontece que fechar as portas no início do inverno significa que haverá racionamento dos mantimentos, pessoas insatisfeitas e atritos internos. Em meio a tudo isso, a protagonista, que acabou de perder o marido, tenta criar sua filha. Essa história não é um épico medieval. Embora guarde algumas das características desse gênero, o ponto central no enredo é a sobrevivência em meio a dificuldades extremas.


   À medida que for lendo mais quadrinhos, vou comentando aqui com vocês. Tenho aqui na minha prateleira, ainda esperando para ser lido: Daytripper,   dos irmãos Bá e Moon; Jimmy Corrigan - o menino mais esperto do mundo; Retalhos e Cicatrizes. Depois que ler eu comento.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Alphas e mutantes


   Um dia desses eu estava passando pela grade de programação dos canais e me chamou a atenção a sinopse de um programa do canal SyFy, chamado Alphas:


"Grupo de Alphas, seres com habilidades físicas e mentais, é escolhido para trabalhar com o objetivo de desvendar crimes relacionados a outras criaturas como eles".

   Logo de cara percebi uma semelhança entre a proposta do seriado e os X-men. Assisti aos primeiros episódios e a semelhança ficou totalmente evidente. Para começar, os Alphas nada mais são do que pessoas que nasceram com capacidades sobre-humanas (como os X-men). Mais precisamente, um grupo de pessoas lideradas por um mentor (como o Professor-X) para encontrar outros alphas. Caso sejam considerados ameaça, eles serão enviados para a misteriosa prisão de Binghamton. Caso sejam "do bem", podem talvez fazer parte da equipe (bom, isso quase nunca acontece, mais o episódio piloto trata justamente do recrutamento de um desses alphas).

PODERES
   Apesar da clara referência aos mutantes, os alphas são menos exagerados. Ou, por assim dizer, menos visíveis. Não se vê nada como pessoas voando ou atirando rajadas dos olhos (pelo menos, não houve nada nem próximo disso até o último episódio que vi). Um dos integrantes da equipe pode manifestar força acima do normal, mas ele também não ergue edifícios nem arremessa carros pelos ares. Deram um ar um pouco mais crível ao seriado, embora ainda incrível em certa medida.
   Outra semelhança com o conceito dos X-men é o poder vir com alguma desvantagem, ou o personagem simplesmente ter algum problema relacionado ou não ao poder. O Professor Xavier é tetraplégico, o Fera é um gênio com aparência bestial, a Vampira não pode tocar ninguém, o Ciclope lança rajadas ópticas destruidoras, mas se levar um murro no queixo, desmaia como qualquer pessoa normal (ou seja, sua vantagem é só no combate à longa distância). Veja como a equipe protagonista da série também mescla poderes com desvantagens:




Dr. Rosen - Mentor do grupo, psicólogo.

   Aparentemente, nenhum poder. No entanto, às vezes demonstra ser um tanto manipulador. Fica em aberto, pelo menos pra mim, se é apenas um psicólogo bem capacitado ou se isso compõe um poder que esconde dos demais, ou que talvez desconheça. Detalhe: seu primeiro nome é Lee. Na minha visão, uma homenagem e referência ao criador dos X-men, Stan Lee.







Nina - Comando hipnótico.

   Uma mulher bonita e que é capaz de dar comandos vocais, desde que possa fazer contato olhos nos olhos. Uma personagem um tanto ambivalente também. Fazia o que bem queria antes de ser encontrada e direcionada pelo Dr. Rosen. Ainda demonstra, às vezes, abusar um pouco de seu poder, como se fosse sedutor demais conseguir controlar as pessoas, embora com o passar dos episódios foi perdendo um pouco dessa característica.






Bill - desempenho físico.

   Ele é capaz de injetar adrenalina no seu corpo. Não fica muito claro de que formas o poder pode ser aplicado, mas aparentemente ele é capaz de aumentar, por um tempo bem curto, seu desempenho físico. Até agora vi ele demonstrar força acima do normal. Uma vez ele também correu atrás de um carro, mas acho que isso é uma derivação da força. Como contra-balanço, Bill só pode usar seu poder por tempo muito curto, que também gera muito cansaço. Às vezes também perde o controle, em uma espécie de berserker a la Hulk.





Gary - Acesso direto à informação.

   Esse é, na minha opinião, o personagem mais divertido e original da série. Trata-se de um garoto autista, que muitas vezes não domina convenções sociais, e adora se sentir um agente especial. Para as outras pessoas, ele é só um autista que vive em seu mundo, mexendo as mãos no ar. Na verdade, nesse momento Gary está manipulando informações provindas de tecnologia, acessando e usando programas em pleno ar, sem a necessidade de ter um computador em mãos.






Rachel - aguça sentidos.

   Não contribui quando se trata de combates, mas é essencial nas investigações. Ela pode ampliar um dos seus 5 sentidos básicos por vez, sendo capaz de enxergar detalhes microscópicos (como o Super-homem) em cenas de crime, perceber cheiros específicos no ar (como o do medo) ou seguir cheiros (como o Wolverine, em ambos os casos), ouvir batimentos cardíacos para identificar quantas pessoas há em um lugar (ao estilo Demolidor)... Em contrapartida, quando ela amplifica um de seus sentidos, os outros se apagam.






Cameron - precisão nos movimentos.

   Esse ex-jogador profissional de beisebol é capaz de arremessar uma bola exatamente onde quer. Ele pode arremessar uma moeda a alguns metros de máquina de refrigerantes e acertar. Basicamente, isso o torna um excelente combatente: os golpes de suas mãos e seus tiros são sempre muito precisos, além de ser um acrobata nato. A desvantagem é que esse poder depende de sua confiança. Bem, pelo menos isso era uma desvantagem nos primeiros episódios.


VILÕES
   Se nos X-men os vilões são os mutantes descontrolados ou que usam seus poderes sem boas intenções, na série os vilões são os alphas com essas características. Em suas primeiras aparições o doutor Lee Rosen diz algo como: imagine pessoas que têm capacidade sobre-humanas, mas sem um correto direcionamento, sem compreender direito o que são, como se colocar no mundo em que vivem. Essas pessoas podem ficar transtornadas, perdidas, aflitas. Como você acha que elas vão reagir? E é daí que nasce uma boa parte das ameaças.
  Interessante também a maneira como, nas histórias, um poder pode se relacionar com o motivo daquele alpha ser uma ameaça. Um deles, por exemplo, é capaz de enxergar com clareza diversas variáveis e calcular, com precisão, o que uma determinada ação pode provocar, levando em conta toda a reação em cadeia. Para ele, jogar um objeto no ventilador e fazer com que bata em diversas superfícies até cair na lixeira (seu alvo) é algo natural, corriqueiro. Isso acabou gerando uma paranoia no personagem. Ele não compreende direito que as outras pessoas nem sempre fazem as coisas calculadamente. Não sabe divisar direito os limites entre os cálculos que ele pode fazer e que uma pessoa comum pode fazer. Para ele, tudo o que fazem (ou quase tudo que todo mundo faz) é calculado, portanto, intencional. Dessa forma, ele culpa todos ao seu redor pelas ações que, de alguma forma, o prejudicaram. Percebem como seu poder está intimamente ligado a esse desnorteio? Sua paranoia e desejo de vingança o transformam em um grande ameaça.

   Nos x-men, os "mutantes do mal" muitas vezes também são vistos como pessoas que declararam guerra à humanidade, como se só uma das espécies pudesse existir. Esses mutantes muitas vezes são vistos como terroristas. Pois isso também existe em Alphas. Na realidade, as coisas ainda não estão muito claras no seriado. O Dr. Rosen parece muito bem intencionado, mas em outros momentos um tanto manipulador. Ninguém sabe ao certo o que acontece com os alphas que são aprisonados na Binghamton Special Research Facility, e isso dá pano pra manga para uma reviravolta na história mais pra frente. A Red Flag é tida como um grupo terrorista, mas contatos com seus membros revelam que eles não acreditam no governo, não confiam no destino que está sendo reservado aos alphas. Paranoia ou conspiração? O grupo protagonista está do lado certo ou do lado errado? A Red Flag está certa ou são como os asseclas de Magneto, que acreditam em um mundo onde somente os humanos ou os alphas vão sobreviver, e por isso devem sair na frente nessa guerra?

HISTÓRIAS
   Tenho gostado das histórias do seriado. Nada muito espalhafatoso e cheio de efeitos especiais. Por outro lado, bem produzido (iluminação, fotografia). Os enredos são casos muitas vezes mais simples, que envolvem investigação, suspense e um pouco de ação, com uma boa dose de embasamento científico. As tramas têm originalidade. Os episódios são mais ou menos fechados. Constituem uma sequência, possuem continuidade, mas você consegue assistir uma episódio solto e entender a história dele. Se estiver passando os canais, como eu, o programa estiver passando, dá uma conferida.


   Já que o post é sobre as semelhanças entre o seriado e as histórias dos X-men, no último episódio que assisti Dr. Rosen e sua equipe descobrem uma máquina capaz de encontrar e seguir qualquer pessoa no mundo, desenvolvida por uma alpha que tem os poderes iguais aos do mutante Forge. Dr. Rosen diz, em uma determinada passagem, que com essa máquina ele seria capaz de encontrar qualquer alpha no mundo. Pra mim, trata-se de uma referência direta ao equipamento Cérebro, tão usado pelo Professor X no primeiro e segundo filmes da trilogia.
   Quem tiver interesse, cheque o trailer abaixo (não achei em português, foi mal).


quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Milagres, Maravilhas e plágios

ENTENDA DE UMA VEZ POR TODAS TODO O CASO MIRACLEMAN/MARVELMAN!

Era uma vez um personagem chamado Capitão Marvel. Assim como a grande maioria dos assim recém-nomeados "super-heróis", ele tinha à sua disposição um leque de poderes que incluía a famosa trindade voo/superforça/invulnerabilidade*. Porém, diferentemente das dezenas de outros super-heróis surgidos durante a Era de Ouro, o Capitão Marvel apresentava um desafio à altura do primeiro deles, Super-Homem, pois o alter ego de Billy Batson vendia, e muito - mais até que o Homem de Aço à época! Devido a isso, a National Comics (que depois se tornaria a famosa DC Comics) impetrou uma ação na justiça acusando o Mortal Mais Poderoso da Terra de plágio do Super, e assim a Fawcett Comics, que publicava o Capitão Marvel, não tendo tanto dinheiro como a National (DC), parou de publicá-lo (e toda a Família Marvel) em 1953.

Enquanto isso, no Reino Unido, a L. Miller & Son, responsável por publicar a Família Marvel na Inglaterra, não estava disposta a desistir de sua maior fonte de renda. Assim, solicitou ao criador Mick Anglo que achasse um substituto. A revista Capitão Marvel #24 foi sucedida no mês seguinte pela revista Marvelman #25. Numa jogada de mestre, Mick Anglo retirou a capa do personagem, mudou seu cabelo para loiro e alterou a frase de poder Shazam para Kimota (a aliteração de Billy Batson se manteve em Micky Moran). E assim nascia um novo super-herói. A revista Marvelman durou até 1963. Marvelman chegou a ser publicado no Brasil, juntamente com Capitão Marvel, mesmo durante as décadas de 50 e 60, e aqui nas terras tupiniquins recebeu o nome de Jack Marvel (?!?) - com as iniciais "MM" de seu peito muitas vezes apagadas.


Aproveitando o lapso deixado pelo nome e a marca, a editora Marvel Comics, durante a Era de Prata, pegou o nome "Capitão Marvel" e lançou seu próprio personagem, o herói alienígena da raça Kree que durante algum tempo trocava de corpos com o adolescente Rick Jones**. Desde 1967, a Marvel Comics é detentora dos direitos de estampar na capa uma revista chamada "Capitão Marvel". Para não perder os direitos do nome, a Marvel Comics sempre lança, periodicamente, alguma revista, minissérie ou personagem novo com o mesmo título, Captain Marvel no original (por isso a quantidade exagerada de personagens na editora que já dividiram o mesmo nom de guerre, incluindo algumas personagens femininas até).

Devido a isso, quando, em 1972, a DC Comics conseguiu comprar o personagem mítico da Fawcett Comics, não pode estampar seu nome nas capas das revistas em que era publicado, em seu lugar decidindo estampar o nome Shazam! E foi desta forma que o personagem da DC ficou conhecidíssimo, principalmente no Brasil, não como Capitão Marvel, mas como Shazam, como se este fosse seu verdadeiro nome. ***

Durante o início da década de 80, um escritor inglês debutante apaixonado pela Era de Ouro foi chamado pela revista britânica Warrior para trabalhar sobre um antigo personagem. Foi assim que Alan Moore começou sua legendária fase reidealizando Marvelman. Moore repaginou o personagem, imaginando um envelhecido Michael Moran tendo sonhos sobre antigas aventuras passadas há quase duas décadas nas quais tinha poderes sobre-humanos e a capacidade de voar. Dentro da história de Moore, o personagem Marvelman havia deixado de existir como tal em 1963 (ano da última publicação do personagem), recuperando sua memória e antigos poderes por volta de 1980 (quando começava a nova história), desconstruindo-o e reconstruindo-o totalmente. Alan Moore criou todo um background novo para explicar não só o sumiço do personagem neste ínterim como também para trazer uma noção mais realista ou verossímil das origens e poderes da Era de Ouro de acordo com visão moderna de super-heróis.


Ao mesmo tempo em que isso se dava, Moore também ficou a cargo das histórias do personagem Capitão Bretanha (ou, como ficou mais conhecido, Capitão Britânia) para a Marvel UK, divisão britânica da editora. Em uma de suas primeiras histórias, Alan Moore e Alan Davis fizeram uma homenagem ao personagem e o inseriram nas aventuras do Capitão Britânia, apenas para matá-lo logo em seguida. Para evitar problemas, nomearam esta aparição especial de Miracleman.


Esta mesma Marvel Comics que empregava Alan Moore para escrever Capitão Britânia entrou com um processo contra a Warrior impedindo que a revista estampasse a palavra "Marvel" em suas capas, e os donos da pequena Warrior não tinham dinheiro para ir legalmente contra a toda-poderosa editora americana.

Mas eis que uma editora americana conhecida como Eclipse Comics passou a publicar o personagem, agora em cores, em solo americano, renomeando-o - adivinhem - como Miracleman para evitar possíveis processos judiciais. E foi assim que o personagem teve 24 edições publicadas, as 16 primeiras por Alan Moore, e as seguintes escritas por Neil Gaiman. Houve ainda algumas edições apócrifas, e o leque total de participantes (entre escritores e desenhistas) é invejável, figurando Mark Buckingham, um incipiente Alex Ross, Gary Leach, Alan Davis, Rick Veitch, John Totleben, Kurt Busiek, Matt Wagner, James Robinson e outros. A fase da Eclipse, sob o nome Miracleman, foi a pela qual o personagem mais ficou conhecido. Infelizmente, a editora faliu antes de concluir toda a saga proposta para o herói.

As questões legais de publicação do personagem nos Estados Unidos apenas com a alteração do nome para Miracleman foi um dos motivos pelos quais Alan Moore declarou nunca mais trabalhar para a Marvel Comics. Outros fatores foram a editora republicar sem sua permissão histórias do Capitão Bretanha (e algumas do Dr. Who) e usar uma chamada para atrair leitores com o slogan "Marvel tem Moore", mas referindo-se ao escritor John Francis Moore.

Na DC Comics, no entanto, Alan Moore fez diversos trabalhos, entre os quais um dos mais marcantes e conhecidos foi Watchmen, revisitando e repaginando antigos heróis da Charlton Comics, editora recém-comprada pela DC, mas alterando seus nomes e personalidades e poderes (Capitão Átomo virou Dr. Manhattan, Besouro Azul virou o Coruja, Questão virou Rorschach etc.). Porém, esta mesma obra foi o motivo pelo qual Alan Moore decidiu também deixar de trabalhar para a editora de Super-Homem. Pelas cláusulas contratuais, Watchmen e seus personagens pertencem à DC Comics, só passando a serem de Alan Moore e Dave Gibbons um ano após a editora parar de publicá-los. Ocorre que Watchmen nunca parou de ser publicada desde 1986, deixando seus direitos para sempre nas mãos da DC. Moore jurou nunca mais escrever tanto para a DC quanto para a Marvel. ****

Este litígio entre os detentores de direitos de personagens foi um dos motivos responsáveis pelo chamado "X-odus", o êxodo de diversos artistas, principalmente da Marvel Comics, para fundar a Image Comics. Entre eles, estavam Jim Lee e Todd Mcfarlane. Todd inventou o personagem Spawn, e em determinado momento chamou alguns escritores de peso para escreverem edições com o Soldado do Inferno. Alan Moore e Neil Gaiman estavam entre os convidados. Na edição número 9, Neil Gaiman introduziu três personagens ao universo do Spawn: Spawn Medieval, Cogliostro e a famosa Ângela. Todd Mcfarlane nunca pagou a Neil Gaiman o devido pelo uso destes personagens em outras publicações e outras mídias. Neil Gaiman entrou então com um processo na justiça para ter direitos sobre os personagens que criou.

Neste ínterim, Todd Mcfarlane comprou os espólios da Eclipse Comics, e se sentiu no direito de incluir os personagens da extinta editora em suas histórias do Spawn, chegando inclusive a lançar uma estatueta do personagem Miracleman com a seguinte inscrição abaixo: "Miracleman is a trademark of Todd McFarlane Productions, Inc. The Miracleman action figure is (copyright) 2003 Todd McFarlane Production". As decisões foram unânimes em favor de Neil Gaiman, e Todd - ironicamente cofundador da Image Comics num momento de reivindicação dos direitos dos personagens - transformou a figura que havia aparecido em sua linha Spawn rebatizado como Man of Miracles (?!?).

Neil Gaiman, para conseguir dinheiro para manter a causa na justiça, escreveu a minissérie 1602 para a Marvel Comics e fundou a Marvels and Miracles LLC. Assim, ficou-se acordado que os direitos sobre os personagens que Neil fez para Spawn permaneceriam com Todd, e em troca Neil deteria os direitos sobre Miracleman. Ao que parece, Neil e Alan Moore concordaram em doar todos os valores relativos ao personagem para Mick Anglo e sua família. Finalmente, o personagem voltou a seu criador.

Em 2009, durante a San Diego Comic Con, Joe Quesada deu a bombástica informação: a Marvel Comics havia adquirido os direitos sobre Miracleman diretamente de Mick Anglo. Assim, o personagem voltou ao seu antigo nome, tornando-se mais uma vez Marvelman. No final de 2011, Mick Anglo, criador do herói, faleceu. A expectativa agora é que a Marvel Comics, além de relançar todos as histórias antigas, relance ainda a fase de Alan Moore e Neil Gaiman escrita na década de 80 e de 90. Os fãs aguardam ansiosamente a publicação deste material de forma completa. Quem sabe, com Neil Gaiman escrevendo material inédito, as famosas fases Bronze Ages e Dark Ages que já havia previsto para o personagem e que nunca pôde concretizar.

* Apenas por curiosidade, pegue o encadernado de Projeto Superpowers e jogue na internet o nome de todos

os heróis da Era de Ouro que lá aparecem para comparar seus poderes. Cerca de 80% deles compartilha a

trindade voo/superforça/invulnerabilidade.

** Entenda todas as semelhanças/dessemelhanças entre os Capitães Marvel aqui em: http://ficcaohq.blogspot.com/2010/10/irreverencia-ou-copia.html

*** Agora em janeiro de 2012 o escritor Geoff Johns declarou que, como o público em geral já associa a palavra Shazam ao personagem Capitão Marvel, e para cortar qualquer ligação ao nome "marvel", no novo universo DC o alter ego de Billy Batson vai se chamar definitivamente SHAZAM.

**** Um dos estúdios fundadores da Image Comics, WildStorm, foi o responsável por publicar algumas das mais recentes HQs de Alan Moore, dentre as quais Promethea, Top10, Tom Strong e Liga Extraordinária, por meio do selo America´s Best Comics. Porém, com a venda da WildStorm para a DC Comics em 1999, indiretamente Alan Moore passou a escrever para a DC novamente, mesmo sem o saber.

Mais Miracleman / Marvelman em breve aqui no Ficção HQ!




Links sugeridos para saber mais a história toda:

http://www.worldsgreatestcritic.com/miraclemansaga.html

http://miraclemen.info/history/

http://pt.wikipedia.org/wiki/Marvelman

http://www.sedentario.org/colunas/miracleman-%E2%80%93-nada-se-cria-tudo-se-copia-comics-addicted-5-1673

http://omelete.uol.com.br/quadrinhos/miracleman-o-plagio-que-deu-certo/

http://www.marvunapp.com/Appendix/miracl.htm

http://www.leylander.org/intercom/marvelman/